domingo, 29 de abril de 2012

A nossa jornada

Me agrada saber que posso acordar todo dia. E todo dia me agrada não acordar à mesma hora: a mesmice me deixaria embebedado, envenenado pela mesmice de ser mesmice. Gosto de não escovar os dentes, todo dia, antes de tomar café: seja antes, seja depois, nunca uma sequência. 
E assim vou levando meu dia: meu dia vazio de verdades, cheio da verdade. Um dia verdadeiramente intenso, como o beijo, adocicado pelo chá de limão de pouco antes, que cruza meus lábios em sintonia com a música. Aquele suor, permeando teu rosto, é a intensidão que o dia te trouxe, junto com a batida calma e cansada de teu peito, que há dias vive sem descanso.
Mas aí... ele me vê, e bate, bate como tendo dois dias de vida: eu vejo ele, eu sinto ele pulsando em minhas veias, e sei que não é, fisicamente, meu. Mas ele bate, incessante, ele quer se soltar do peito daquela moça que não é a moça que o criou: ele me pede ajuda, e eu sou quem pode ajudá-lo.
E eu tento ajudá-lo, repito à dona dele que ela é solta, que ela tem de voar, alto e longe, sem cansar, mas que sempre pouse no meu jardim, na minha janela, para cantar livre e docemente. Eu a libertei, sentados naquela mesa de biblioteca qualquer (até sei qual a cadeira, a mesa, mas não me vale saber isso, o que me vale é que aconteceu).
E eu a libertei, eu a fiz voar, vi seu canto engrossar, seu sorriso brilhar de vez, e vi seus olhos, pela primeira vez, sem a cortina da dor. Eu havia preenchido o último vazio dela: ela não sabia o que era amar. Nossa, Poeta, quem você é pra falar disso! Sou alguém que já amou, mas amou errado, e aprendeu com o erro de amar errado! Não deixo margem para me julgar, e eu decidi amá-la e cuidá-la, como minha mulher, e não como tua, leitor.
Eu me orgulho do que fizemos, e decidimos ser livres de tudo e de todos. Quem somos? Dois encantados, tão simples quanto isso. Ah! Quem somos, pra vocês? Namorados, se é que vocês têm cacife pra bancar essa definição imposta pelo modelo de sociedade que vocês vivem. Estamos juntos, e pretendemos seguir nossa vida, voando alto e cantando, mas sempre pousando no nosso jardim pra descansar. 
E só deixarei de fazer isto tudo quando meu dia terminar. O dia, para mim, só termina quando acaba o meu fazer, e não quando o relógio marca a nova meia-noite. Meu dia começou há pouco, e quero nunca saber quanto vai durar.

É amor.

O Poeta.

domingo, 15 de abril de 2012

Transbordar

Como pode?
Como pode, você ter esse poder de me fazer transbordar?
Como poder, haver músicas, momentos, poesias tuas, que me fazem transbordar de amor?
A primeira vez que eu transbordei, eu estava enlaçada a você, enlaçada em seu tronco, ouvindo uma música linda, num mundo só nosso, onde a música dizia que eu não te deixaria ir, nunca, e eu mal tinha ideia do que era aquilo, do que era aquela manifestação de amor. 
Tempo depois, após nós nos entregarmos à felicidade; após a descobrirmos. Numa sexta-feira 13, numa biblioteca quase vazia, numa mesa quase vazia, com uma poesia na mão, uma poesia sua, "Te amar de novo". Na noite anterior, eu havia transbordado novamente (com uma outra poesia sua que resolvi ler  pela segunda vez)  e você disse- eu quero fazer esse efeito amanhã - (in)felizmente eu estava feliz demais em te ver, e você não me viu transbordar na sua frente, nem dentro de mim. Então, naquela noite, depois de você já ter ido, eu sentei, coloquei uma das nossas músicas, e transbordei, manchei o papel, manchei meu rosto, eu derreti. 
E me derreti, transbordei no dia seguinte. Como pode, músicas falarem por nós, pelo nosso interior e ser capaz de entrar, invadir e completar-nos e por fim, deixar apenas você? 
Você abaixa a cabeça na  mesa, meus braços te envolvem como numa medida perfeita, um quebra-cabeça, único, como se aquilo fosse pra ser. Como se todo o nosso caminho tivesse sido feito para aquele momento existir, como se cada obstáculo anterior, cada pessoa, cada tristeza, fosse para que fossemos únicos, únicos e capazes de completar o outro. Único, você e especial. Aquele mundo, naquela sala, aquela (in)certeza, aquilo que era pra ser, o mundo gira devagar, gira ao nosso tempo e nós dois tremendo e redescobrindo descobrindo, um beijo. 
Como pode? 
Você, de mansinho, veio, me tirou toda a dor e me preencheu com você, me dando seus olhos, suas mãos, você todo. Esses olhos com de mel, quando ao sol, com esse sorriso nos olhos, essa dedicação. Eu te gravei em mim, meu amor. Eu te gravei e pretendo não apagar. Eu quero você comigo; por que eu gosto de você; gosto de te cuidar; de te amar; te mimar; de ver teus olhos ao sol; te ver à luz da lua, onde cada árvore torta, é linda, cada nuvens é especial, cada sorriso seu é lindo; gosto de andar com você; de beijar suas mãos;cariciar teus cabelos; te ver dormir. 
Como pode, num abraço teu, tudo se esvair, tudo ser paz, leveza e amor, um amor que só é seu. Eu fecho os olhos e te sinto, sinto você em cada toque, cada abraço e cada beijo. Eu te ouço, mesmo te tendo longe; eu sinto teu calor; teu cheiro; tua presença; mesmo você nunca tendo estado aqui. O que é isso, senão amor? Sim, eu amo você e quero você sempre comigo. Nossas estradas não se uniram sem um motivo, e eu quero estar por toda essa estrada a frente, seguindo de mãos dadas às tuas, passando por cada obstáculo, juntos. E quero você, na minha estrada, um levando a bagagem do outro.
Sabe, serei seu lar se quiser, te darei meu colo pra te alimentar, te darei meu mimar, meu amar, meu viver.
Meu amor, o mundo acaba hoje e eu estarei dançando com você, e eu não te deixarei ir.
Toma, te dou uma caixa, meu coração, e nesta caixa, eu te dou uma estrela, um pássaro, uma rosa, meu coração, e um bilhete: "Toma meu coração, é teu. Te amo".




<3




(F) 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Permutação de Almas

Aquela tarde, meu caro leitor, ela ficou observando-o enquanto ele falava com um amigo.
Ambos parados na escada, ela de frente pra os dois, e o observou. Ele falava com seus gestos característicos, e aquilo era encantador para ela.
 Veja leitor, quão rápido e forte se concretizou essa amizade, tão forte que é vista com preconceito pela sociedade e seus conceitos. Mas, por ser algo verdadeiro, benéfico, e pela forma de pensar de ambos, comentários eram ignorados pois só eles sabiam o que era e como era a amizade deles. O rapaz era uma tal importância na vida dela, uma importância sem valor que a compre. 
Ela o observava enquanto ele  falava e gesticulava, o olhava com admiração e carinho. Após um tempo, ele voltou, sentou-se ao lado seu, e olhou-a com um olhar curioso e no qual havia vida e brilho. Conversaram sobre as coisas que a machucavam naquele momento. Quando ela acabou de falar ele passou o braço por ela e a abraçou, como se lhe algo a puxasse, ela deitou sua cabeça no ombro dele, disse algumas palavras e após isso como se aquele abraço e aquele ombro quente extraísse dela suas lágrimas, lágrimas estas  compostas pela mais pura mistura de sentimentos. Lágrimas de dor e lágrimas de felicidade. Estas por ter perto de si esta criatura mais linda, bela e doce e de sentimentos puros que está ao seu lado, este anjo, e Aquelas, pelas lástimas causadas pela vida.
Nos  braços e abraços quentes dele, ela encontrara o calor que descongelou o que era gelo em seu coração. Gelo este causado pelas feridas do passado, que havia em ambos os corações. Os dois entendem, que após tantas dores, causadas pelo passado, os dois se encontraram por causa de destino. Pode se dizer, que a estrada dos dois, se encontrara num ponto e a partir dali, desse encontro, de uma troca de palavras sentiram que deveriam seguir juntos, um ajudando com a bagagem do outro. 
Em momentos de silêncio, ao se olharem, quando algo precisava ser dito, as palavras eram comidas pelos olhos, não sendo assim necessário o dizer, o sussurrar, pois o dizer já havia mudado pela permutação daquelas duas almas. Dessa forma, a alma de um, que era também a do outro, era alimentada pelas palavras digeridas pelos olhares, bastando apenas o olhar para dizer, para entender. Aquilo para eles, era um sinal de amizade pura e verdadeira, e bastava como prova. Tendo isso como fato concreto, você leitor entenderá o que se sucedeu instantes seguintes.
Numa das trocas de proteção, de abraços, ela abraçou-o o tronco. Ao fazer isso, olhou para os olhos do rapaz, e logo lhe veio à cabeça as palavras dele na noite anterior- "Léa, amanhã, quando eu não estiver olhando, olhe meus olhos"- e olhando discretamente para aqueles olhos castanhos cujo contato com a luz se tornavam de um castanho-mel ela viu, naquela janela da alma, doçura, brilho e alegria e viu além disso, paz. "Seria aquilo mesmo que ela via?" pensou, pois era algo novo visto em olhos que a pouco, houve tanta dor e tristeza. Aquele olhar enchia a alma dela pois por serem um, a felicidade de um era a do outro. 
Perdida naquele olhar, ela se viu olhando o relógio, olhou a hora, 20 minutos, era seu tempo máximo ali. Abraçou-o mais forte. Num instante, os minutos tornaram-se segundos, o tempo passava rápido demais. Ela tinha que ir, mas algo não a deixava ir, ela não queria ir. Então, por necessidade, ela se levantou, abraçou-o forte, o mais forte que pode, pegou suas coisas, e desceu as escadas, mas estaria zelando por ele.



"As 31 rosas do jardim são suas, E há somente um cravo, que é meu"    (F)

sábado, 21 de janeiro de 2012

Organiser Le Coeur

Uma paz  muito grande, foi o que ela sentiu naquela manhã, quando finalmente terminou de organizar todo o conteúdo de seu passado naquele maleiro do guarda-roupa.
Momentos antes, ela havia resolvido organizar o quarto. Foi quando jogou o par de tênis "All Star" na ultima porta que olhou de relance, o branco traje usado antigamente.Viu a sua pequena bagunça até então adiada. Fechou a porta. Deu apenas um passo e parou. Estava sufocada. Algo a pedia que voltasse, àquele pequeno passo, e que organizasse tudo. Ela abriu com cuidado, com medo de que todos os objetos guardados ali caíssem de seu coração como se tivessem sido apertados e socados lá, obrigados a ali ficar. Olhou com cuidado, planejou. Foi tirando sapato por sapato; caixa por caixa e amontoo-as ao seu lado. Após isso, foi abrindo caixa  por caixas, e vendo, e estudando cada objeto, cada lembrança, cada dor. Algumas, ela pegou, olho, sorriu, analisou. Sorrio para cada objeto, um olhar doce, com saudade. Uns foram para a sacola de lixo. Outros, para a pequena caixa, a qual foi a única que restou das muitas que existiam. Lá, ela achou cada evento, cada sorriso, abraço e lembrança que existiu. Cada dor, mentira, ilusão. Pensou. À ela, seria de maior paz guardar apenas o bom, o que lhe fez mal, ela jogaria no lixo para que não lembassem mais, e não poluíssem mais o coração. Colocou o que era pedido, no lixo. Colocou tudo o que lhe era bom numa caixa e a separou. Então, olhou pra cima. O simbolo de tudo aquilo, deveria ser guardado junto. Aquela veste de estilo grego, branco, com os cordões amarrados, que simbolizava a amizade, um abraço caloroso, naquele momento, estava amarelado e os cordões numa organização confusa. Pegou-a com carinho maior ainda; aquele havia sido por muitos anos, o seu maior refúgio, sua paz e seus sonhos. Tirou com cuidado do cabide,cheirou, sentiu o tecido, apertou o tecido, sentiu o gélido e cuja textura lhe lembrou cada momento importante que havia passado. Dobrou-a  com cuidado e ensacou. Abriu o maleiro, achou um lugar, e lá, guardou tudo, cada embrulho. Todo o seu passado, toda a dor. Um dia, abriria aquele maleiro novamente, mas doerá menos nesse dia. Então, o restante ela organizou no lugar visível, bem no fundo, e fechou a porta, em paz, e leve. 




                       (Leandra Marcondes)
                                       (F)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um céu e uma Lua

"Acorda! Acorda! a gente vai perder o ônibus!"  Foi assim que ela acordada naquela madrugada. 
Depois de muita pressa, pegou suas coisas e juntas,  e as quatro mulheres saíram por aquela manhã. Ela sinceramente não esperava aquela escuridão, aquele negro céu, daquela bela cidade. O observador que as visse, imaginaria um fuga, mas não, não era uma fuga, bem, na verdade, estavam indo para onde deveriam fugir. Ao sair da casa, a primeira coisa que fez, foi olhar o céu, novamente, não imaginava o que veria, porém, o que viu, lhe tirou o fôlego. Não era apenas um céu estrelado. Era um céu especialmente estrelado, onde as estrelas se destacavam, pela falta de iluminação da cidade naquele momento. Uma força a fazia querer parar, e ficar eternamente olhando para aquela beleza da natureza, mas sua avó insistia em apressá-la, mas ela andava e  olhava para o céu, queria guardar aquele céu para si, dentro de si, para sempre lembrar de sua imensidão, de sua intensidade e grandeza. Alguns passos afrente alguém disse, "Olha a lua, que  linda!", ela olhou pro céu, à procura da  lua, mas a viu logo a frente, aquela lua minguante, nítida, bela, e extremamente fascinante. Aquela visão, foi o maior presente que nossa personagem poderia ter ganho naquele dia. Aquele céu, que lhe dizia palavras doces e fortes, que lhe dava força, e confiança, dava esperança. Aquela lua, parecia seu interior, meio cheio, meio vazio, mas ainda estava cheio, cheio de luz, de vida. Os assuntos decorridos depois, diziam sobre o famoso "Cruzeiro do Sul" e outro assuntos que não interessa a mim, nem ao leitor. O que importa, é que aquele céu, naquela manhã, foi o mais lindo e esperançoso céu que a natureza pôde dar a nossa personagem. Lhe indicou, que a vida sempre nos dá motivos para seguir em frente, com o apoio de uma lua e de um céu.

domingo, 27 de novembro de 2011

Ismália do século XXI (2ª Edição)


Então é assim que termina uma vida? Com um corpo frio, sem vida, sem emoção? Onde tudo o que se viveu se acaba num instante. Foi assim que Deus preferiu deixar os corpos de seus filhos na terra? Foi como se eu estivesse segurando uma pedra quando juntei o corpo dele ao meu naquela manhã, num instante derradeiro de loucura. 
Quando acordei, fiquei te olhando Miguel, não quis te acordar, estava decidida, que mudaria, ia dizer que mudaria que tentaria mudar por você. Mas, quando fui beijar seus olhos, não havia calor neles, nem sentido, você não estava mais lá, e sim o que Deus deixou de você pra mim... 
Na noite anterior, não parecia uma noite qualquer, você me abraçou e disse, eu vou estar sempre com você, eu prometo. Mas, a vida não é como planejamos, não é? Deus cria as pessoas, as projeta, manda pra Terra, e quando menos se espera nos tira a pessoa amada, sem explicação nenhuma, nem pedido de desculpas, e é claro que Ele tiraria você de mim, você é um anjo, meu anjo! Que tentava me manter na Terra, enquanto minha loucura me consumia. Você dizia, saia daí, não é aí que está a explicação, não há explicação para o que você procura... O que eu procuro? Não sei, você nunca me disse, agora sai daí, que não está no céu, na lua, ou nas estrelas... Então onde está? Foi no céu que eu a vi... Bem na minha frente, numa noite comum, solitária. Por que ela não aparece de novo... Por quê?  Por que ela não aparece e me diz o porquê dela ter se mostrado, e desaparecido tão de repente. Por que ela não me atende? Por quê?! Se todas as noites eu acordo no meio da noite e peço para que ela apareça e me revele o sentido da minha vida, e por que ela me escolheu para essa loucura. Peço para que ela me liberte dessa loucura de ver o que as outras pessoas não vêem, dessa mesquinhez, crueldade e exploração com que o homem se submete e submete aos outros. Por que eu, se eu nada posso fazer, pois estou dominada pela loucura, a qual foi a única que me amparou para essa missão. Não, eu não posso dizer que ela me deixou sozinha, ela me deu o Miguel. 
Ainda me lembro a primeira vez que eu o vi. Ele não queria a fama dos teatros e sim, o bem e leveza que ele trás. Foi num teste para uma peça minha. Ele logo me encantou, e se aproximou de mim como algo inexplicável, logo se interessou pelo que eu sou e penso, pela minha loucura e estranheza. Logo, já morava comigo. Com muitas rejeições por parte da família dele; eu era mais velha e louca. Mas, ele foi contra todos.  Ele me fazia bem e eu a ele. Ele me equilibrava e concertava. Era o equilíbrio entre a loucura da realidade, a consciência e o ser feliz. Quando eu contei a ele sobre a minha busca, ele me entendeu, não me achou louca como meus pais acharam, não quis se distanciar. Ele apenas disse, um dia você vai encontrar querida, um dia você vai. Ele me dizia, você tem que esquecer um pouco do que é o mundo lá fora e sair um pouco, como antes, se lembra? Íamos ao teatro, saíamos, bebíamos. Às vezes sinto falta daquela época, mais, amo você da mesma forma e te respeito pela sua forma de ver o mundo. Você acaba assustando as pessoas, querida. Mais, as crianças gostam de mim, por que elas ainda não foram formadas e ainda possuem sensibilidade. Elas me vêem como eu sou, não como uma louca, mais é uma pena que um dia elas se tornem adultas. Elas são tão simples e adoráveis... E brincar com elas é a única coisa que vale a pena ser feita. Principalmente aquelas abandonadas e rejeitadas. É uma pena, por que essas sim são uma salvação, elas terão bom coração por muito tempo, mas ninguém vê. 
Agora, que adianta sair, se eu vou me lembrar dele, se o que restou dele agora está apenas em mim. Suas manias, cigarros, telas, desenhos, suas palavras, seu calor, seu cheiro. Do quer adianta? A família dele veio aqui e levou tudo que lhe pertencia, mais não levou o mais precioso; as lembranças, os momentos, os abraços, os beijos e o amor, o nosso amor. Ah! Como me faz falta, se abraço acolhedor, seu calor, seu carinho. Como eu queria tê-lo só mais uma vez perto, de mim, para tirar de mim essa angústia que me toma! Só ele a tiraria de mim agora. Eu deitaria em seu colo e choraria, deixaria tudo lá, na sua pele, para que ele organizasse e arquivasse para mim, mais ele se foi. 
Quem sabe se Ela pode tirar essa angústia de mim,eu não suporto mais esse sentimento que me acompanha, essa solidão, essa realidade nua e crua que Deus me mostra todos os dias quando eu olho pela janela. Quem sabe se eu me ajoelhar e rezar, ela não vem? “Ave-Maria, cheia de graça...” (apareça!) (Arranque isso de mim! Eu não quero mais!) E eu peço! Mais Ela não vem. Talvez ela queira que eu vá ao seu encontro, ao encontro do Miguel. Sim, é claro! Ela me tirou dele para que eu fosse ao seu encontro... Ah! Agora posso vê-la novamente. Vestida de branco, com manto azul, linda, lívida, calma e acolhedora. 
Do alto da janela do apartamento, eu posso vê-la, talvez se eu subir mais, eu a alcance. Isso me lembra um poema que mamãe lia para mim.
“Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.”
...[Sim, e sou Ismália.]
“No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...”
A lua... Maria... 
Eu a vejo no céu, e na imensidão dessa cidade solitária.
Agora, posso ser Ismália. Vejo-a agora, e sim, que posso alcançá-la.
Se eu subir, fico mais perto... Mais perto...
Topo...
Posso pegar sua mão... Sim, estou indo...
Mais um passo...
Minha alma subiu ao céu, meu corpo desceu às pedras, de um estacionamento...
Agora, tenho Maria,
Agora tenho Miguel...


(Leandra Marcondes)

domingo, 20 de novembro de 2011

Caro amigo....

Ai, meu amigo Caramelo, 
lembra que há tempos lhe disse sobre minhas sensações de estar vazia por dentro?
Pois então, essa sensação constantemente tem me visitado... 
Não que todos os meus bons e maus sentimentos fugiram, mas algo, fugiu, algo abriu um buraco...
Sabe, estive pensando, se realmente não é falta de algo, que de repente, meu ser toma consciência dessa ausência, e grita, desesperadamente...  Talvez seja a falta de algo, ou de alguém, alguém desconhecido ou não percebido ainda.
O que você me diz sobre isso? 
Fico pensando se é normal... mas, se tornou normal para mim, para ser EU viver com esse vazio...
Os seus conselho, caro amigo...são de estrema e delicada ajuda e importância.
Pois, sem eles, não saberia ao certo com conviver e superar estes vazios...Então...
Parte do que eu sou hoje, do que superei, vem de você e da sua força...
Hoje, depois desta valiosa construção da nossa amizade, só lhe tenho a agradecer por tudo...
Só tenho a lhe pedir, que continue perto de mim, e dizer que estarei ao seu lado, lhe dando apoio, e te ajudando na caminhada... pois é o que eu sinto e devo fazer... se me permitir...
Caramelo, Um grande abraço...